segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O DESCONHECIDO



Estava Lucila diante de um dilema: comparecer ou não ao encontro com aquele desconhecido?
Afinal, estava tão carente que não importava se fosse o homem mais horrível do mundo ou o mais tolo, o mais desonesto.
Pintara o cabelo, ajeitara um coque meio desalinhado, sentia-se tão sexy como nunca havia estado.
O carro não pegava.
Só na terceira ou quarta investida conseguiu pô-lo em marcha.
O encontro seria no teatro principal da cidade. 
Haveria lá uma tocata.
Lucila nem sabia o que era isso.
Tocata?
Deu de ombros, ajeitou os cabelos no espelho do carro, o rubro batom, ensaiou um canto com a dupla que cantava no rádio.
Estava feliz.
Ultrafeliz.
Depois de afirmar que estaria enfiada num vestido esverdeado e trazendo no peito um topázio, lembrou que o desconhecido havia dito que estaria sentado num dos camarotes da entrada principal à esquerda: número onze.
Leu e releu aquele número.
De repente, quedou-se, num mal estar repentino.
Mas que estranho!
Um homem não vir buscar a dama em casa!
Estranho e imprevisível!
- Lucila, Lucila! - suspirou - que é isso? Vai ver que ele nem se liga em mulher, que quer somente alguém para curtir a vida, como tantos que agem pela Internet.
Mas não era isso que ela queria também?
Curtir a vida?
Pois então!
Entrou no teatro, meio disposta a sondar antes de encontrar o homem.
Não deu tempo. 
Um senhor de preto chegou-se a ela e, lhe tocando o braço, disse:
- Dona Lucila, seu lugar está reservado no camarote onze. Venha comigo.
Um, dois,... sete, que ânsia,... oito, nove, coração ofegando, dez, minha nossa!,... onze. 
-É aqui!- exclamou Lucila.
E então foi apresentada ao desconhecido pelo homem de preto.
- O senhor Jerry, meu patrão. Ele é cego.



Nenhum comentário:

Postar um comentário