sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

MEU PAI, GIJO VÁLIO.



Meu pai, esse, sim, era um Ecologista.
Não daqueles que se dizem ecologistas ou ambientalistas só para dar um jeito de concorrer a algum cargo eletivo ou ser recompensando monetariamente por isso.
De criança, me lembro que a gente não podia cortar uma goiaba, mexerica ou laranja castigando a árvore ou cortando-lhe os galhos.
Ele jamais permitia que se cortasse um pau sequer sem que houvesse um fim predeterminado.
Ele jamais admitia que se matasse um animal ou uma ave.
Ele jamais se descuidou de uma enxurrada abrindo erosão num terreno seu.
As nascentes lá do nosso sítio eram fielmente protegidas por ele.




As matas virgens, se não fertilizadas, eram incentivadas pelos seus olhares atentos, constantes, zelosos, vigilantes e sobranceiros.
Não havia relhos ou chicotes ou esporas para se bater nos animais.
As vacas tinham nomes e eram tratadas como gente de casa.
Ele ficava deveras zangado quando via um gato pegar rolinhas que desciam no terreiro comer com as galinhas.
Quando alguma rês acabava comendo daquelas ervas venenosas, ele ficava tão triste...
Silenciosamente, pegava a velha garrucha herdada do meu avô, o Major Luiz Válio, dirigia-se até o pasto onde encontrava o bicho estrebuchando-se de dor, e atirava nele.
E, quando isso acontecia, ele ficava um bom tempo recolhido, mudo, remexendo a cuia do chimarrão muitas e muitas vezes, durante muitos e muitos dias.
Uma vez, coitado, teve que vender um boi, um garanhão, o Brioso, para pagar umas dívidas. É porque meu pai não gostava de dívidas, tanto que não deixou nenhuma de herança.
Até na política, onde se meteu desde 1.947, jamais fez campanha com dinheiro de partido e, sim, com seu próprio dinheiro.




Incrível, mas nesse dia, até o boi chorou com ele.
Quando o caminhão chegou, boi já amarrado aguardando, ele deu ordem para que os empregados do sítio ajudassem na condução do mesmo para dentro do veículo e sumiu!
Lágrimas caíram dos olhos do Brioso.
Até o comprador viu aquilo.
Brioso nasceu ali, foi criado ali.
Durou mais de uma hora para que o boi aceitasse a decisão de ir-se embora.
Acho que meu pai, lá do seu esconderijo, por telepatia, comunicava-se com o Brioso.
Fazer o que?
Por essas e por muitas outras coisas, acho que meu pai preferia mais lidar com os bichos do que com gente.
Bichos não dão dor de cabeça.
É isso.


Só que meu pai não teve tempo de desejar, como fez Bernard Shaw às vésperas de sua morte, que seu féretro fosse acompanhado por animais e não feras.
No caso do escritor, as feras são os homens.
Em agosto de 2.011 meu pai faria 90 anos...
Saudades. meu velho...
Saudades doídas...



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