sexta-feira, 29 de junho de 2018

"BENDITO SEJA"



Bendito seja
o sol que aquece
as águas das nascentes nas entranhas da terra,
fazendo rebrotar as plantas empedernidas, insensibilizadas
pela ação dos ventos destruidores.

Bendito seja
o riso que habita
as frestas das florestas
onde as aves se levantam em uníssono mal começa o dia
refazendo o caminho sempre em busca de alimentos
ou de novos amores para novamente procriarem.

Bendito seja
o dia que chega frio, mas que pode esquentar
porque o sol vai reaparecer e vai nos obrigar
a curtir a esperança por conquistas e renovação.

Luiza Válio.

sábado, 19 de maio de 2018

"NÃO TENHO CERTEZA"



É o destino da gente
nascer com um coração batendo no peito,
para aprender a sentir o pulsar da vida,
do florescer do primeiro e dos outros amores,
de carregar as dores e as lágrimas mal contidas,
de saber dos limites do corpo e da alma,
de buscar felicidade,
de ter uma família que nos acolha,
de realizar sonhos e acariciar irmãos,
de amar o pai, o CRIADOR, 
e em SEU colo repousar
quando um dia ELE vier nos recolher.
É o destino da gente
experimentar todas as sensações, 
dizer e ouvir todos os sons
e de repente, repentinamente,
estacionar
para nunca mais existir.
Mas não tenho certeza.
Você tem?

Luiza Válio.

terça-feira, 17 de abril de 2018

ADEUSES


Durante dias, tive a paciência de observar as três folhas que nasceram algum tempo atrás no meu vasinho.
Eram batatas que eu trouxe lá de Sete Barras, há anos, as quais, anualmente rebrotam assim, folhagens coloridas, sempre iguais, que eu gosto muito porque me lembram minha mãe, ela sim, as amava muito, e mantinha vasos enormes cheios delas - de cores as mais diversas - na grande área que havia em nossa casa, lá no Sítio Bom Retiro.
Não me canso de contar isso.
Pois bem, mas observando o vento balouçar por entre essas três folhas que nasceram no meu vasinho, me vi a pensar como se ali houvera uma pequena família.
A folha mais nova, para mim, o filho, as maiores seus pais.
Quando ventava, e quanto mais balançava a "família", mais o "filho" se juntava e se aninhava e se enroscava ao corpo dos "pais", as folhas maiores, no meu entender.
Pois assim foi durante algum tempo.
Eu fui ali mentalizando uma história, que verdadeira essa história! 
Vento e mais vento passaram por ali, e, embora a mais nova folha se segurasse com grande força às maiores, não conseguiu salvar suas vidas: as folhas maiores acabaram pendendo-se, perderam as forças diante dos ventos e, afinal, cansadas, porque já não aguentavam o vergar do tempo e do vento, caíram e murcharam.
Por mais que se agarrasse a eles, o filho perdeu o pai, depois a mãe, e agora está ali, sozinho, desvalorizado, desqualificado, solitário num vaso onde apenas a terra o sustentará até o embate final que também o levará embora um dia.
Que vida triste!
Mas será?
No ano que vem, quando as batatas brotarem de novo, vai que, ao invés de um filho, nascerão mais dois e dessa forma a alegria poderá durar um pouco mais?
Ou então...
Vamos torcer para que o vento não venha com tanta força ou a dona deste vaso não deixe as folhas da folhagem colorida ao relento para receberem tanto vento a ponto de matá-las, não é mesmo?
Oxalá!

Luiza Válio.

domingo, 26 de abril de 2015

TERRA



Desde que saímos gritando feito loucos de dentro daquela bolha aquosa que se formou no interior de nossa mãe biológica, fato que só pode ser taxado de milagre mesmo, vivemos à mercê do tempo.
O frio não começou ainda, mas o mau tempo já age por ai, intercalando sol e chuva num mesmo dia.
Quando isso acontece, gera um desconforto danado ao nosso organismo; ocorrem pressão baixa, pressão alta, gripe, febre, infecções na garganta, nos ouvidos, constipações, dores...
Será que a culpa é da natureza? 
Será que somos nós os culpados?
Nada disso, creio!
A natureza não foi criada para se interligar aos problemas que atingem os seres vivos que a habitam, principalmente os humanos, porque esses tem seus médicos, seus remédios, sua fé: um dia adoecem e são curados ou então desaparecem, mas tem a incrível capacidade de renovarem-se com a procriação.
Já a natureza, coitada, ela mesma é quem tem de se cuidar e se ajustar para possibilitar sua própria sobrevivência, tendo como mecanismo de auxílio só mesmo as constantes alterações do tempo.
Bendita seja a natureza, bendita seja a terra!

LUIZA VÁLIO.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

"ROSAS QUE FALAM"




Quem foi que disse 
que as rosas não falam,
se elas de repente traduzem
qualquer sentimento que temos?
Quem foi que disse
que as rosas envelhecem 
e depois morrem,
se suas pétalas,
uma a uma, 
podem ser guardadas
por toda a vida
dentro de um caderno,
dentro de um livro,
penduradas no teto
ou dentro do coração?

Luiza Válio

O VALE DOS CAVALOS AZUIS



Era um lugar mágico.
Você já viu ou já esteve nalgum lugar mágico?
Mas não precisa estar; só precisa imaginar-se lá.
Pois lá havia um grupo de índios que morava numa caverna e criava cavalos azuis.
Na língua nativa, os selvagens mal sabiam explicar de onde conseguiram trazer a matriz já prenhe para a sua taba.
E começaram a nascer os potros cada vez mais azuis. De um tom tão lindo que nem a noite conseguia sonegar.
Embora lindos e diferentes, eram tão dóceis e tão facilmente domesticáveis que até a linda índia Guimá, filha do cacique Gurum, com pouco mais de uma dezena de anos de idade, já sabia montar neles.
De repente, a fama dos cavalos azuis rompeu campos, correu vales, sobrevoou montanhas e deve ter chegado também numa aldeia esquisita, a aldeia dos homens sem alma.
Esses homens sem alma não gostavam de rir. 
Suas crianças não brincavam.
Os homens adultos morriam logo.
Muitas mulheres foram ficando sozinhas.
Pois aconteceu que, certo dia, Guimá se perdeu numa floresta. Com a tempestade que se avizinhava, o cavalo azul que a acompanhava assustou-se, e, desembestado, pôs- se a correr de volta para a aldeia, derrubando a menina ao chão.
Foi encontrada desacordada por um rapaz da aldeia dos homens sem alma.
Quando acordou, Guimá soltou um grito:
- Onde estou? Quem é você?
- Sou Iné, da aldeia que manda nestas terras. Vá embora daqui. Se meu pai, o cacique Lugim, encontrar você, teremos um belo jantar.
- Vocês comem carne de índio?
- De índio e de tudo que é bicho bom.
- Por que?
- Porque a gente quer aprender a ser diferente. A nossa raça está desaparecendo. Muita doença. Tem morte todo dia. Não nasce mais nenhuma criança. O feiticeiro que disse que a solução vai vir se a gente comer bicho bom e índio de raça boa e até ele morreu.  
Guimá pensou e pensou e disse:
- Vamos embora comigo, então?
- Não posso. Meu pai me encontra e me manda pro inferno.
- Então acho bom me levar até ele, porque não sei como que eu vou achar o caminho de volta pra minha aldeia.
E a menina foi posta em frente ao cacique Lugim, um homem de aparência tão má que ela esquivou-se, apavorada.
Lugim foi rodeando e cheirando a indiazinha, cada vez mais enfurecido. 
Era uma intrusa e isso não estava cheirando bem. Vai que algum grupo de caçadores de índios estava espreitando a aldeia e a menina servia só como "isca" para a caçada...
Iné chegou e perguntou:
- Meu pai, ponho a água a ferver?
- Não. Vamos barganhar.
E virando-se para a menina, perguntou:
- Onde está sua aldeia? Tem animal lá? Se me derem dez cavalos, sua vida está salva.
A menina explicou mais ou menos o que sabia sobre a sua aldeia e partiram quando a lua estava alta no céu.
Seis luas, oito luas, treze luas se passaram. 
De repente, umas luzes azuis começaram a aparecer na escuridão das noites e finalmente chegaram ao vale dos cavalos azuis. 
O cacique Gurum sentiu que a filha chegava e pôs-se a caminhar ao seu encontro, sem pressentir  nenhum perigo.
Um abraço longo, a alegria renascendo nos olhos do homem sofrido, a mãe que chega rindo e agradecendo aos céus, a aldeia toda preparando-se para uma bela festa.
"Que alegria é essa?" - pensava o outro cacique.
E veio a conversa e veio a barganha e os dez cavalos azuis foram embora dali de modo bem ligeiros. Para serem devorados pelos habitantes da aldeia dos homens sem alma.
Os tempos passaram.
Veio seca. Veio chuva. Veio dor e veio crescimento. 
Também Guimá sofreu muitas perdas: o pai e o irmão mais novo. E veio a hora de ter que procurar por um marido. Na aldeia, muitos rapazes se interessavam por ela, mas na cabeça dela a imagem de Iné mais e mais se fortalecia.
Mas ficou sabendo por um visitante morador das proximidades que a aldeia dos homens sem alma não existia mais.
O coração apertou-se quando ouviu aquilo, mas quedou-se, pois não valia mais a pena esperar por ele.
Foi na Festa de Pajé Maluco, evento que acontecia na chegada da primavera, que Guimá decidiu namorar o primeiro rapaz que aparecesse em seu caminho, quando a lua fosse alta lá no céu.
E quando a lua começou a brilhar mais intensamente, Guimá fechou os olhos a fim de saborear aquele momento maravilhoso e, de repente, ao abri-los, notou que um homem se aproximara trazendo consigo uma fileira de cavalos azuis:
- Vim devolver seus cavalos. Deve ter mais de três dezenas agora.
- Vocês não comeram os animais?
- Não precisamos fazer isso. Só de olhar para eles, tudo na aldeia se modificou. Agora somos os homens da aldeia feliz.
- Ah, aqueles que moram no vale das pedras preciosas! Já ouvi falar de vocês. E então? Deixe os cavalos por aí e vamos festejar nosso reencontro, Iné.
E foram de mãos dadas para o que o destino lhes reservasse a partir daquele momento.

OBS: Acabei de criar esta estorinha.  

sábado, 31 de janeiro de 2015

"ÍMPAR AMAR"



Os amores de ontem
eram muito mais românticos.
Havia mais ternura,
mais troca de carinhos,
mãos entrelaçadas,
sussurros e promessas reais.
Hoje, as pessoas se olham
e,
 de repente,
só para não acabarem sozinhas, 
acabam ficando.
Nesse jogo
onde ninguém joga;
nesse encontro
onde ninguém dialoga,
vale qualquer um
para se fazer um par.
E esse arranjo
num suposto par
 muitas vezes termina num ímpar fracassar.