Dizem que foi por ali que aquela menina se perdeu.
Quem se lembra?
Mirrada, medrosa, triste, olhos esbugalhados.
Nem parecia uma criança de apenas oito anos de idade.
Portava-se com suprema dificuldade, como se esforçando para carregar o mundo sobre a cabeça.
Os braços eram tão curtos que mal movimentavam-se para o lado, antes, pendiam, como se fossem fardos pesados demais.
Leilinha era o nome dela.
Mas as pessoas já esqueceram do nome dela.
Ficou só como "a menina do mato", "a menina santinha", "a menina que sumiu na mataria".
Anos se passaram e a história da menina foi esquecida.
Um belo dia, apareceu no lugar um grupo de ciganos.
Pediam comida, trocavam peneiras, vendiam colares, liam as mãos...
A mãe da menina Leilinha, agora já mais velhinha, lembrou de perguntar à cigana sobre o paradeiro da sua filha.
E a mulher lhe respondeu:
- Na árvore. Lá naquela árvore.
Com gestos meio apressados, apontava a mais alta das árvores, longe, muito longe dali.
- Lá naquela árvore. A menina está lá.
Um lenheiro muito bom resolveu fazer um favor para a velhinha e tomou o rumo apontado pela cigana.
Foram mais de vinte dias no meio da mata.
Até que, decidido a voltar, com o corpo completamente ferido pelos espinheiros do caminho, resolveu parar num regato e tomar de sua água.
Foi na água que viu aquele vulto.
Uma criança.
Linda menina.
- Oi, menina. De onde você veio?
Na ausência de resposta, pois a menina principiava a correr mata adentro, o lenheiro foi atrás do seu rastro.
E viu.
Um clarão no meio da floresta.
Uma tapera.
Um homem e uma mulher.
- Meu Deus, você não é a Leilinha?
- Sou, sim.
- O que aconteceu que você se perdeu?
- Me perdi e fui encontrada por um homem que também se achava perdido na mata. Criamos uma família juntos. Já pensamos em retornar à civilização, mas temos medo. Meu marido é cego e mudo, como é que vamos explicar as coisas, né?
- Eu posso ajudar. Se vocês quiserem, eu ajudo.
Ninguém ouviu falar mais nem da menina e nem do tal lenheiro.
Luiza Válio.