sábado, 18 de fevereiro de 2012

NALGUM LUGAR DO BRASIL.


Assembleia Legislativa cheia naquele dia de sessão. 
Não deu para faltar. 
O coitado do deputado andando meio torto, olhos esbugalhados, tão inchados se apresentavam. 
Uma enrascada. 
Teve que tomar quase uma dúzia de injeções, fora a vergonha sentida diante das crianças que brincavam nos arredores do quintal do dono da farmácia de onde ele fora vigiar o fato.
Como dizia Matias Arrudão, a formiga-cobra é a mais traiçoeira das formigas, é uma fera em ponto pequeno. 
Acostumada ao mato, ela chega com raiva, esfrega as patas como quem diz:
- "Esperaí que você vai ter!"
A formiga-cobra é comprida, seca e morde com o rabo. Não procura a umidade e nem o escuro, mas fica onde está, como um soldado heroico na sua trincheira. 
Aparece de repente, na lenha de cima, quando o trabalhador está descuidado e ferra-o com vontade. 
Dez picadas inutilizam um homem para o resto da vida, quem dirá um homem desmaiado.
Foi então que o deputado, tendo que repousar um bocado, resolveu ir à banca de jornais: encheu uma sacola com gibis e coquetel de palavras cruzadas.
O dono da banca?
Um tal de Tavarinho vindo de uma cidade bem próxima daquela que o deputado investigava.
Tavarinho.
Uns oitenta e tantos anos.
Entabulou conversa.
E Tavarinho escancarou o verbo.
Que o dono da política da bela cidade era um absolutista que a fez tão dinâmica e tão acima das outras que a circunvizinhavam. Esse cidadão a amava tanto que a tornou a mais rica da região.
Era um cavaleiro filantrópico sem nada de demagogia, cortejado como um rei por um séquito formado por um grupo de homens de dobradiças às costas.
Cabriteiro na política, sempre a manipulou com sua cartola de mágico.
Esse chefe-mor nunca, nunquinha aceitou que alguém atravessasse seu caminho.
Uma vez, um vereador, desejando homenagear o boia fria, apresentou um projeto à Câmara de Vereadores para que ela comprasse e doasse à Igreja Matriz uma imagem de Santo Izidoro, patrono dos lavradores.
Seria o mínimo para se agradecer à classe dos que roteiam a terra de sol a sol.
Porém, a cidade não precisava de mais um santo, fora o próprio manipulador da história dela.
Ele sim é que deveria ser cultuado e que era cultuado sempre.
Pois não era ele que protegia a quem queria, tirava sarro das pessoas que ousavam pensar diferente dele, jogava-as na sarjeta.
Trinta anos depois de sua morte, alguém mandou erigir uma estátua para homenagear o bendito lavrador.
O deputado pensou bem, repensou...
- Ué, mas não vi nenhuma estátua que representasse o lavrador...
Achou que o Tavarinho estivesse esclerosado.
Ou quem sabe ele havia inventado tudo?
Poderia ter confundido a cidade...
A caminho de Alphaville onde residia, o deputado quase sofreu outro acidente.
Foi tentar ultrapassar...
Opa! 
- Que placa é essa?
Era da cidade onde ele estivera investigando o prefeito. E viu que o homem estava dentro do veículo.
Mundão pequeno e frio.



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