sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A FLORESTA DE CHOCOLATE





Era uma vez uma floresta. 
Como o "Parque Carlos Botelho", em São Miguel Arcanjo. 
Só que era mágica.
Quando os animais ali se encontravam, não havia briga. 
De jeito nenhum.
As horas demoravam a passar, porque não existia tristeza e o sol brincava nas águas frescas dos regatos que passeavam lentos, cheios de pedrinhas coloridas navegando nos seus leitos.
Era uma beleza identificar aquela natureza viva e satisfeita carregando a fauna e a flora nos seus grandes braços maternais.
Um dia, o canguru chegou apavorado. Todo sujo de barro, correu para lavar-se na lagoa azul, seguido pelos companheiros assustados.
- “Mas não é barro, não!“ - exclamou o esquilo.
- “Parece tinta...” – profetizou a anta.
- “Não é nada disso. É doce!” – disse a abelha, já tonta de tanto experimentar.
- “É mel, seus tolos!” – disse o urso.
- “É gostoso... É gostoso...”. E caiu desmaiado o colibri.
Mais do que assustados, os bichos se reuniram num círculo em volta da avezinha desmantelada no chão, com a barriga dura de tanto sugar aquele “troço” doce. Parecia morta. Será que morreu?
Asas abertas, a águia falou:
- “Os humanos plantaram isso. E a coruja me disse que é chocolate. Não sei o que significa isso, mas ele disseque vai explicar tudo. Acho que ela descobriu alguma trapaça dos humanos”. 
- “Onde está a coruja?” – perguntou o elefante.
- É... é... a... coru... ja. Onde é que... que... quela está...a...?
Era o bicho preguiça que já chorava de medo.
- “Ela vem já, já”, respondeu a águia.
Mas a coruja já chegara.
Pensativa, ergueu e mais alteou o pescoço, girando-o até formar um ângulo de 360 graus e, muito calmamente, começou a falar:
- “O chocolate. É, o chocolate. Os humanos estão roubando a nossa floresta. Eles estão derrubando tudo o que cresce e tem folhas verdes para fazer papel, casas, móveis modernos, transformando a floresta num monte de lixo. E para que a gente não perceba, eles estão plantando árvores de chocolate no lugar. Acho que eles estão cheios de intenções ruins”.
- “Mas isso é ilegal, é contra as leis da natureza. Temos que lutar contra isso”, disse o hipopótamo.
- “Mas eles tem armas poderosas, poderosíssimas”, respondeu a coruja, apreensiva. “Eles tem caminhões enormes, aviões barulhentos, umas motoserras infernais e até um navio gigante que pode carregar todos nós nele e ainda sobra espaço”.
A maritaca se apavorava. As borboletas se chocavam no ar. Os saguis pulavan e gritavam feito doidos. A cegonha chorava feito um bebê.
De repente, alguém lembrou:
- “O Sol!! Vamos pedir ajuda ao Sol”.
- “Mas o Sol anda sumido! Com o inverno, ele parece que tem preguiça e some da terra, não dá as caras para nós!”.
Era o macaco ponderando.
- “É... Ele prefere descansar”, concordou o elefante. “Mas vou procurar por ele. Me acompanhe, compadre búfalo. Nós somos grandões, ele há de nos ver e acordar do seu sono”.
E partiram em busca do Sol que morava nas montanhas vermelhas.
O caminho era bem difícil.
O vento soprava gelado e forte demais, as folhas eram arrancadas das árvores e caíam formando montes pelo chão, dificultando o movimentar das patas. Andaram, andaram, tropeçaram, sentiram muita falta de ar, cansaço, dor nas pernas, e nada do Sol aparecer. Parecia até que o mundo ia acabar por aqueles lados.
E nada de se aproximarem das montanhas vermelhas.
Cada vez mais desanimados, sentaram-se o elefante e o búfalo no chão... E dormiram... E até sonharam sonhos maus, sem pé, nem cabeça, sem fim e nem começo.
Acordaram suados.
- “Não sei de nada, compadre elefante. Eu também estou ensopado e nem consigo levantar. Me ajude aqui, compadre, faz favor!”, pediu o coitado do búfalo.
Sem entender nada, voltaram a caminhar em busca do Sol. Nada de Sol! Algumas luas já haviam passado no céu. Perderam a conta. Acharam até que estavam perdidos. Havia pântano. Nenhum animal passava por ali. Só mesmo urubus e gaviões.
Como ir em frente? Como voltar? Com o sono, esqueceram até da direção a tomar...
- “Tão grandes e tão inúteis!” – pensava um.
E o outro pensava igual:
- “Tão grandes e tão bocós!”.
- “Im-pres-tá-veis!”.
Era a consciência. De cada um deles.
Mas não adiantaram lamentos. Recomeçaram a andar. E a correr. E a descer montanhas. E a subir penhascos. E nada do astro aparecer.
Teria o Sol evaporado?
Teria implodido?
Que fariam sem ele?
Era só tristeza.
Mas eles caminhavam. Pelo menos, eram dois. Dois grandes compadres. Haveriam de sobreviver!
Mas de repente... A paisagem começou a mudar, a parecer meio familiar. 
E então reconheceram o grande lago azul que um dia viu todos os animais dali nascerem. Era a floresta mágica.
Enfim, voltavam para casa.
Mas havia algo estranho nela. Estava um pouco menor, mas os animais cantavam em rodinhas. E então perceberam os amigos que chegavam da grande viagem.
- “Obrigado, obrigado, obrigado”.
E todos vieram agradecer. E atropelavam-se, falando alto.
- “O Sol nos contou que vocês estiveram nas montanhas vermelhas e avisaram que a gente precisava de ajuda”.
- “Ele chegou e derreteu todo o chocolate”.
- “Com sua força, deixou os humanos tão fracos e anêmicos que eles foram embora daqui, envergonhados”.
- “Bem, - disse a coruja piscando um olho -, graças a Deus, tudo será como antes. Estamos em paz e tudo graças a vocês dois”.
Não havia como explicar.
Os dois compadres nem chegaram a ver o Sol.
Ou será que estiveram nas montanhas vermelhas enquanto dormiam? Será que eram sonâmbulos e não sabiam?
Ou será que os animais da floresta também tem seus anjos da guarda?!


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