sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

JOSEF E EU.



O telefone insistindo naquela manhã.
Chatice levantar-se tão cedo.
A voz parecida com a voz de Josef...
E era!
Cumprimentos. 
Lembranças.
E uma proposta:
- Líria, soube que está sozinha e tenho algo a lhe propor. Você sempre foi muito fria com relação a sentimentos, mas, olha aqui, eu preciso disso, tá? É a minha vida, Líria... Devo estar num Congresso dentro de duas semanas no Equador e uma das exigências é que eu seja casado... Líria, por favor, case-se comigo...
Aquele homem parecia um torpedo.
Fria, ela?
Ainda bem que ele a via assim!
Era já a quarta ou quinta vez que lhe prestava favores.
Uma vez teve que fingir que era sua esposa naquele clube de campo em Honduras.
Outra vez, quando fugiram de um baile e, meio bêbados, ele teve medo de dirigir e acabaram dormindo num motel. Claro que não aconteceu nada!
E aquele marido ciumento daquela vez em Veneza?
E a mulher de chapéu lilás num palacete em Cuba?
Nossa!
Engraçado como ele saíra completamente das suas lembranças...
E agora voltava?
Por que não?
Seria divertido.
Nada a perder com aquele homem maravilhoso!
Que então ele marcasse a data.
Seria interessante!
Só que não foi.
Com o papel nas mãos, o torpedo sumira no primeiro avião para Quito.
Tristeza?
Disfarçaria!
Iria para as compras. 
Pensava num espelho maior para o quarto, roupas de cama novas, umas flores naturais, lingerie nova...
Olhou sobre a mesa da sala: havia uma pequena fortuna sobre ela.
E a campainha e a empregada que avisava:
- Dona Líria, encomenda para a senhora!
O ramalhete quase não entrou pela porta, tão grande e lindo. Um cartão e uma caixa de bombons:
- Volto breve! - dizia o "marido".
E assim, a cada dois dias aquilo aconteceu: flores e mais flores e caixas de bombons...
As frases: "Chego logo"; "Estou voltando"; "Adoro café"; "Te amo, loira".
Mas Líria nunca fora loira!
Também não custava nada experimentar...
- Dona Líria, telegrama para a senhora.
Um grito: 
- Ele chega amanhã!
E Josef chegou, sério e pensativo.
E contou tudo para ela. Era um torpedo falante. Congressos e mais Congressos. Gente. Debates...
De repente, um silêncio.
Ela se virou para ele.
- Líria, precisamos conversar. Temos que conversar.
O coração meio que baqueou.
Era o sonho que desmoronava. Viria a separação, com certeza. Missão cumprida, afinal.
- Agora?
- Já - foi a resposta dele.
Ela ainda quis protestar, protelar, mas sentiu que havia perdido terreno para ele, como se estivesse presa a ele.
Num minuto, estavam, ambos naquele taxi bordô.
Para onde?
Ele não respondeu.
A cidade ficando para trás.
Líria chegou a cochilar.
Acordou bem quando o taxi parou defronte a um imenso casarão todo iluminado.
Algumas pessoas diante dele.
Parece que haveria uma festa.
Não, não era nada disso.
Foi então que ele, gentilmente, abriu a porta de trás e, tomando-a pelas mãos, seguiram até o casarão.
Diante daquelas pessoas, ele a apresentou:
- É a nova patroa da mansão!



Nenhum comentário:

Postar um comentário