quinta-feira, 6 de setembro de 2012

"LEILINHA"




Dizem que foi por ali que aquela menina se perdeu.
Quem se lembra?
Mirrada, medrosa, triste, olhos esbugalhados.
Nem parecia uma criança de apenas oito anos de idade.
Portava-se com suprema dificuldade, como se esforçando para carregar o mundo sobre a cabeça.
Os braços eram tão curtos que mal movimentavam-se para o lado, antes, pendiam, como se fossem fardos pesados demais.
Leilinha era o nome dela.
Mas as pessoas já esqueceram do nome dela.
Ficou só como "a menina do mato", "a menina santinha", "a menina que sumiu na mataria".
Anos se passaram e a história da menina foi esquecida.
Um belo dia, apareceu no lugar um grupo de ciganos.
Pediam comida, trocavam peneiras, vendiam colares, liam as mãos...
A mãe da menina Leilinha, agora já mais velhinha, lembrou de perguntar à cigana sobre o paradeiro da sua filha.
E a mulher lhe respondeu:
- Na árvore. Lá naquela árvore.
Com gestos meio apressados, apontava a mais alta das árvores, longe, muito longe dali.
- Lá naquela árvore. A menina está lá.  
Um lenheiro muito bom resolveu fazer um favor para a velhinha e tomou o rumo apontado pela cigana.
Foram mais de vinte dias no meio da mata.
Até que, decidido a voltar, com o corpo completamente ferido pelos espinheiros do caminho, resolveu parar num regato e tomar de sua água.
Foi na água que viu aquele vulto.
Uma criança.
Linda menina.
- Oi, menina. De onde você veio?
Na ausência de resposta, pois a menina principiava a correr mata adentro, o lenheiro foi atrás do seu rastro.
E viu.
Um clarão no meio da floresta.
Uma tapera.
Um homem e uma mulher.
- Meu Deus, você não é a Leilinha?
- Sou, sim. 
- O que aconteceu que você se perdeu?
- Me perdi e fui encontrada por um homem que também se achava perdido na mata. Criamos uma família juntos. Já pensamos em retornar à civilização, mas temos medo. Meu marido é cego e mudo, como é que vamos explicar as coisas, né?
- Eu posso ajudar. Se vocês quiserem, eu ajudo.
Ninguém ouviu falar mais nem da menina e nem do tal lenheiro. 

Luiza Válio.