sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

AUTOBIOGRAFIA


Meu nome é Luiza de Jesus Válio.
Gosto de dizer que sou o resultado de uma mistura entre gregos, italianos, portugueses e indígenas que se foram entrelaçando nas árvores genealógicas de meu pai, Luiz Válio Júnior e de minha mãe, Maria Olímpia de Jesus Válio, ambos naturais da cidade de São Miguel Arcanjo, no Estado de São Paulo, onde também nasci.
Quem sabe por que nesta cidade?
E por que neste país?
Para que?
Quem sabe?
A verdade é que eu tinha que estar aqui, não durante um dia, nem durante um ano ou dez, mas durante mais de meio século.
Como testemunha, talvez, dos acontecimentos, das situações e também como alvo de tantas experiências que fui levada a viver dia a dia para poder reviver, quem sabe, numa vida em outro plano bem maior do que este.
Nasci no Sítio Bom Retiro, herdado por meu pai e que pertenceu aos meus avôs e bisavôs paternos, cerca de duzentos e cinquenta alqueires, localizado na estrada que vai da cidade para o Bairro do Turvinho, aos l2 de setembro de l.951.
1.951 foi o ano em que pela primeira vez se utilizou da energia atômica para fins pacíficos, tais como na produção de energia elétrica e no aquecimento. Nesse ano, o Ministro da Fazenda chamava-se Horácio Lafer e o Poder Executivo da Nação brasileira achava-se nas mãos do General Eurico Gaspar Dutra. Ainda era possível jogar futebol e ‘queimada’ com os colegas nas vias públicas, mas o comunismo já entrava em fase de ação direta no país. Oswald de Andrade ainda vivia entre nós e tinha características só suas. Apesar de ser satírico e turbulento, jamais deixou de ser um cara bastante sentimental. A amizade entre o jornalista Samuel Wainer e Getúlio Vargas dava origem ao jornal ‘Última Hora’. O voto já era obrigatório para ambos os sexos. A Via Dutra estava concluída, finalmente. 
Minha mãe deve ter sofrido demais comigo, pois, além de ser a primogênita, já trouxe uma hérnia comigo. E ainda hoje a carrego!
Assim, coitada, quantas noites, quantas delas mal dormidas, minha mãe amanhecendo ao meu lado, ouvindo meu choro sem quase nada a fazer...
Bendita a mãe que tive!
Bendita e humilde, a minha mãe.
Depois de mim, vieram as quatro irmãs: Lúcia, Lígia, Laura e Lurdes; mais tarde, os irmãos Geraldo e Gilberto e, fechando o ciclo, a irmã Lenita Valentina.
Cursei o Primário na Escola “José Gomide de Castro”, onde estive sempre entre os primeiros alunos da classe, principalmente nas matérias de Português, História e Música.
A primeira professora chamava-se Graziela e morava em Itapetininga. Do seu sobrenome, por mais que tente, não consigo me lembrar. Não sei por que motivo ou circunstância não o retive na lembrança. Acho que ele não foi importante. Importante foi o que sobrou dela no meu coração.
Os prêmios dados aos alunos classificados como os primeiros da classe, ao final do ano, eram muito singelos. Na primeira série, lembro-me de ter ganho um livrinho de missa com a capa banhada a ouro e, nos anos seguintes, alguns estojos de madeira contendo lápis de cor.
Talvez por serem esses prêmios tão simplistas é que meu pai nunca acreditou que sempre terminei o ensino fundamental entre os primeiros alunos da classe.
Mas me bastava a satisfação de minha avó com quem sempre morei desde que completei idade para frequentar a escola. Como me amava essa mulher! Ai de quem se habilitasse a querer tirar uma casquinha que fosse de mim perto dela!
Dos tempos de Ginásio, ficaram na memória professores como Arthur Augusto Antonio (de Português), Waldemar Rodrigues Alves (de Ciências), Miriam Rabelo Orsi (de Música), Cleide (de Francês), Kainara ( de Educação Artística ou Trabalhos Manuais), Vianna (de Matemática), Elza Barretti (de Geografia), etc.
O professor Arthur gostava de incentivar o meu dom de escrever. Tanto que reservava os quinze minutos finais para ler meus contos, minhas poesias, minhas redações.
Era maravilhoso!
Como eu me sentia importante!
Nesses momentos eu esquecia até da minha timidez.
Outra coisa que eu também gostava era ouvir o professor Waldemar dizer que eu ‘sentia com os olhos porque era uma poeta’.
Nas aulas de Matemática, não que eu gostasse da matéria, mas estudava, fazia os exercícios do livro em casa e, então, quando o professor resolvia ajudar os alunos que precisavam de notas na respectiva matéria, lá estava eu passando os resultados para muitos da classe.
Apenas duas grandes colegas guardei na memória: Eliza Saeko Ikeuche, hoje senhora Osvaldino Meiga, e Erlina dos Santos Terra. 
Frequentei a Escola Normal no Instituto Educacional Peixoto Gomide, na vizinha cidade de Itapetininga e sempre experimentei imenso orgulho por isso, pois era uma escola conhecida e tradicional.
Recebi meu diploma de professora no ano de l.970. No ano seguinte, estava lecionando em uma Escola Rural de São Miguel localizada na Fazenda Cereser, de propriedade de João Cereser, um jundiaiense que aqui veio plantar uva, maçã e algodão.
Quem não se lembra do Vinho São Miguel, que ele assim rotulou em homenagem ao nosso município que prometia tanto?
Formei-me no Curso de Ciências Jurídicas da Faculdade Karnig Bazarian, também em Itapetininga, onde conheci pessoas de todas as partes do Estado de São Paulo e de todos os níveis e classes.Terminei o Curso em l.974. Era a mais jovem da classe e das mais jovens da Faculdade como um todo. Lembro-me da luta que os proprietários da FKB tiveram para registrar o curso dentro dos parâmetros legais. 
Em São Miguel Arcanjo, juntamente com Braz Munhoz, fundamos a Associação Menino Jesus de Praga, entidade sem fins lucrativos, de auxílio aos pobres. Os Estatutos, bem como a Ata de Fundação da mesma foram confeccionados por meu pai, Luiz Válio Júnior. Essa Associação é que deu origem ao Movimento Jovem de Assistência Social, que, mais tarde, foi utilizado pela Prefeitura local. Sua diretoria sempre contou com funcionários da própria administração. No final da década de 90, serviu também para que a família Estrela, com o aval do presidente da entidade, que mal sabia rascunhar seu próprio nome, e alguns outros membros da diretoria, pudesse trazer uma rádio dita comunitária, mas bem ‘familiar’ para São Miguel Arcanjo.
Em l.975, fomos responsáveis pela organização de um Festival de Música realizado no Cine-Teatro São Miguel para conseguir dividendos para a Associação Menino Jesus de Praga.
No final desse ano, devido ao estremecimento das relações com meu pai, fui obrigada a ir embora para a Capital, onde morei alguns meses com meus tios Sílvio Livieri, ferroviário aposentado que possuía uma loja na Rua Campos Sales em Itapetininga, casado com Maria de Lourdes Válio Livieri.
Trabalhei na Editora Abril Cultural, na extinta Casa Anglo Brasileira ( Mappim), no Banco Mercantil de São Paulo, no Banco Itaú, na Imobiliária Sucar e na Imobiliária Digimóvel. Desde Auxiliar de Escritório a Secretária. e de Chefe de Setor a Gerente-Administrativo.
Em l.997 voltei em definitivo para São Miguel Arcanjo, onde, ao lado da professora e grande amiga, Maria Perpétua Nogueira de Almeida, iniciamos um trabalho de resgate histórico da vida do município, ela que já possuía, há mais de vinte anos, um Museu particular.
Fundamos, então, a Associação Casa do Sertanista de São Miguel Arcanjo, eminentemente museológica aos 20 de setembro de l.999, sem a ajuda de ninguém.
Afirmamos sempre com grande prazer e incomensurável orgulho que essa foi uma das primeiras associações criadas na cidade sem vínculo algum com o Executivo local.
Foi ideia minha a criação de uma Biblioteca, pelo que batalhei atrás de livros. Muitos desses livros pertenceram a antigas bibliotecas do Município.
Fizemos um resgate como até hoje ninguém aqui jamais fez ou fará de modo voluntário.
Abrimos as portas para estudantes e visitantes, incluindo turistas vindos de diversos lugares.
Gratuitamente, emprestamos livros e fizemos centenas de pesquisas, muitas delas encomendadas.
Promovemos muitos concursos culturais e demos prêmios, inclusive em parceria com o Movimento de Ação Social ‘São Francisco de Assis’ nas famosas ‘Domingueiras’, que sempre contaram com a apresentação de Roberto Mendez.
Ainda no ano de l.997, em Itapetininga, participei dos primeiros passos do Jornal Cidade, de propriedade de Maria Aparecida dos Santos, irmã do querido Osmar Rodrigues dos Santos, que, juntamente com Severino, fundaram ‘A Gazeta’, de Itapetininga e os jornais ‘A Hora de São Miguel Arcanjo’ e a extinta ‘A Hora de Pilar do Sul’.
No ano de l.998, comecei a participar da Diretoria da Corporação Musical São-miguelense, mais tarde, até me tornei uma das ritmistas da sua Banda Lira.
Infelizmente, Banda Lira sempre tem um histórico a desejar em todo município pequeno e carente como o nosso, visto que o atrelamento aos poderes constituídos locais é por demais pernicioso para a cultura musical e mesmo para a cultura em geral.
O auxílio só existe quando esses poderes tem algo a barganhar em ocasiões predeterminadas.
Quem sabe um dia o povo possa contribuir com a cultura local. Mas para isso terá que conhecer um pouco mais sobre a trajetória dos antepassados que lutaram pela construção da história da cidade, bem como aprender a ter orgulho dos seus próprios antepassados que aqui nasceram e morreram.
Oxalá um dia o povo deixe de hibernar e saia dessa infindável depressão.
Tanta depressão no seio da comunidade faz pensar que o principal responsável talvez seja a saúde pública, bastante precária, quase inexistente.
No ano de 2.005, Maria Perpétua e eu fomos convidadas para integrar o Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga, e nos tornamos detentoras de duas cadeiras:
a) - número l2 – doze - que tem como patrono o Major Luiz Válio, grande historiador e jornalista autodidata que assinava como J. Severo, Ferdinando Cipó, LV e outros, principalmente em matérias veiculadas no jornal ‘O Progresso’;
b) – número l3 – treze – que tem como patrono o Tenente Urias Emigdio Nogueira de Barros, um dos colonizadores do município.
No ano de 2.006, juntamente com Braz Munhoz, fundamos o Movimento de Ação Social São Francisco de Assis, entidade também sem fins lucrativos, com objetivos culturais e assistenciais. Nasceu nele o ” Projeto Domingueiras”, destinado a mostrar valores novos , bem como homenagear pessoas merecedoras de reconhecimento por parte da sociedade local.
Foi um sucesso durante todo o ano de 2.007.
Sua continuidade não foi possível devido ao ano eleitoral de 2.008.
O comércio local ajudava nas promoções, doando medalhas e troféus.
Durante três anos consecutivos fizemos o Natal para mais de setenta pessoas carentes.
Claro que também com a ajuda do comércio local.
Em 2.009, com alguns problemas de saúde, resolvi digitar minhas memórias e as memórias resgatadas da história de São Miguel Arcanjo, estas em parceria com a amiga Maria Perpétua Nogueira de Almeida.
Em 2.010, através da Editora Trombetti, empresa da família, publicamos alguns livretes, os quais foram distribuidos para escolas, entidades, etc.
No dia 10 de fevereiro próximo passado alguém - que pode ser a mando de alguém maior da cidade - conseguiu surrupiar minha senha e estragar o meu projeto virtual.
Na medida do possível, passaremos tudo para este novo Blog, antes de bloquear/desativar o anterior.
Esperamos que a polícia resolva o caso, embora não acredite nisso.



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