domingo, 29 de abril de 2012

"EU DEIXO DE EXISTIR"



Neste feriado, 
vou deixar você sozinho.
Então, 
aproveite para descansar, 
mas também para pensar em nós,
pelo menos um pouquinho;
para pensar que podemos estar bem juntos,
que podemos caminhar juntos,
que podemos planejar o futuro,
ou talvez não.
Neste feriado,
faça de conta que deixei de existir.
Depois me fale
se sentiu vontade de me ver,
e,
 se a resposta for negativa,
quero que daqui para sempre
todos os dias sejam feriados para você.

"CHOVE"


Esta chuva agasalha-me,
fascina-me.
Como se fora a esperança,
traz com ela 
a calma para minha alma
sempre apreensiva.
Como se fora um manto,
transporta para o tempo
da existência o negro sentido.
Quando ela passa, 
deixa o renascer da vida.
Bendita a chuva que purifica meu ser!

sábado, 21 de abril de 2012

"NATURALMENTE"



                                           Como pode haver tanta beleza
na natureza?
Como foi que aconteceu
de a noite ter luz
e o mar refletir tanta cor?
Como foi que se inventou
o som do silêncio,
trazendo a paz?
Como foi que brotou
da face da terra
a eterna pujança
de uma obra sem fim?
Como foi que o encanto
desenhou com um sopro,
e tão naturalmente,
a coisa mais bela
que é a vida, afinal? 

sexta-feira, 20 de abril de 2012

"EM BUSCA DE SCATY"




É no final desta alameda que encontrarei você. 
Não sei se é negro,
mulato, 
velho ou rapaz, 
só sei o seu nome: 
Scaty.
Se é nome ou apelido, 
se é falso ou verdadeiro,
não sei,
só sei que,
no final desta alameda, 
você disse que vai estar lá.
Estará?? 

"TANTAMBULANTES"


Tantos transeuntes passam,
amolgados;
tantos problemas ambientes
acossados;
excrementos tantos misturados;
tanta língua acorrentada,
gargantas tantas,
secas,
frias;
tantos braços descaídos
na luta pelo pão de todo dia;
tanta ansiedade de voltar para casa
e no aconchego

do abrigo das paredes,

ser, 
finalmente,
o descarrego
do próprio ambulatório 
tão atribulado...

terça-feira, 17 de abril de 2012

"MOMENTO DECISIVO"




Já não sei se ainda quero ou se aguardo uma decisão do destino. 
Pode ser que Olavo nem queira mais voltar a viver comigo.
Machuquei seu orgulho, ironizei sua vaidade, fiz de conta que eu era o deus de sua vida.
Brinquei com seus desejos, fiz dele um boneco sob meu jugo, tranquei as falas, amarguei os momentos que eram para ser os mais doces de nossas vidas.
Não fui mulher, não me fiz sua companheira.
Percebi que Olavo por diversas vezes passava as noites sofrendo; nem assim dialoguei com ele, não me prestei ao jogo do amor, fui má e só lhe causei desespero, mágoa e fraqueza.
Nove horas.
Cadê Olavo?
Claro que não virá!
Parou um carro lá fora. Pode ser que seja agora. Mas onde já se viu tamanho amor desse jeito?
O relógio avançando cada vez mais rápido.
E se ele não vier mais? Pode ser que a caça cansou de sê-lo e agora saiu em busca de outras coisas diferentes, mais duradouras, mais ternas.
É, porque a gente precisa de tranquilidade e de paz para viver nesta vida.
Olavo, Olavo... 
Dez e meia. 
Mas ele não pode fazer isso comigo!
Agora sou eu quem preciso falar com ele.
É primordial que ele venha!
O celular não atende.
A cortina da janela do quarto precisa ser fechada. Ora, nem percebi que chovia...
De repente, um frio, um calafrio.
Tocaram a campainha!
Não pode ser Olavo; ele tem a chave.
Outro toque. 
Será que atendo?
- Oi!
- Oi!
- Quase meia noite!
- Desculpe o horário. Me distraí com meu sobrinho.
- Não faz mal! Sente.
- Não posso demorar muito. Parece que a cidade vai alagar toda com a chuva que está caindo.
Caminho até ele, toco-lhe o braço, mas ele se retrai imediatamente, quase com fúria.
- E aí? 
- Olavo, eu...eu estou grávida!!
- E aí?? Por acaso é meu?
- Dois meses!
- Então é meu?!!
Eu olhava para Olavo; não queria que ele percebesse, mas de repente senti uma vontade louca de mudar toda a minha história. 
Mas ele percebeu tudo, sim; ele tinha uma sensibilidade anormal.
Afinal de contas, ele me conhecia. Eu era mulher de uma palavra só, de uma promessa só.
Eu não quis pensar mais em nada.
De repente, Olavo veio para mim acolhendo-me em seus braços que me pareceram muito mais fortes.
- Meu filho! Agora tenho certeza de que você é minha mulher! 
  

"MARIANINHA"




                                            Eras tão doce, 
Marianinha,
como a rosa que se abria no jardim.
Tinhas nos lábios,
Marianinha,
a purpurina que tingia minha vida de ermitão.
Quando naquela tarde partiste, 
Marianinha,
toda a ventura que eu experimentava,
noite e dia,
parou de existir e meu coração foi embora contigo.
Hoje, passo as noites, 
Marianinha,
esperando que um dia do teu sonhar despertes,
despertes para me buscar.

sábado, 7 de abril de 2012

"O QUE SOU EU?"


Eu posso fazer nascer a luz através de um simples botão.
Posso revirar o mundo pelo avesso e saber de cada detalhe que acontece em cada lugar do planeta.
Eu posso ser o maior e ver lá do alto o que ficou cá embaixo em suas mínimas medidas.
Eu posso semear um grão, mas também transplantar uma árvore. 
Eu posso jogar tudo para o alto e começar uma nova história.
Posso gerar outros diferentes seres humanos.
Posso até imaginar que sou um Deus, que o Deus que me fez já foi embora para um outro diverso Universo.
Sabe o que não posso?
É esquecer que sou menos do que um grão de areia voando pelo espaço sideral sem direção.
 

"MARIA E O MAR"




Na tarde em que Maria partiu, levou consigo as esperanças que acabavam de nascer no peito daquele menino.
Há muito tempo, ele não sabia o valor de uma amizade, de um sorriso, de um reconhecimento.
Desde que Maria chegou naquela vila, o sol brilhava mais forte, o trabalho no corte de cana não pesava tanto e todo o mundo tingia-se de cores deliciosas.
O menino estava feliz como jamais estivera na vida.
- Maria, mas por que você quer morar no meio do mar? É tudo tão escuro dentro da água!
- Não que eu ame o mar, meu querido. Um dia, o mar levou meu primeiro filho, perdi meu esposo para o mar, minha mãe afogou-se nele, porque não sabia nadar...
- E você, Maria, sabe nadar?
- Não.
- Então, eu lhe ensino, tá, Maria? Eu sei nadar.
E então, quantas vezes o menino pegava Maria pelo braço e a levava de volta para a vila onde moravam!
O último domingo chegou com chuva e trovoadas. 
Parecia que a casa do menino desabaria. 
A avó preocupada. 
Mas no pensamento do menino, de repente, só brotava um nome:
- Maria! Vó do céu! Vou ver a Maria. Vou e volto correndo. Depois eu tomo um banho quentinho.
Silêncio na casa de Maria.
Um bilhete na porta quase apagado pela ventania que jogava a chuva para dentro da varanda.
- Meu amigo, não se preocupe comigo. Fui para o mar.
De volta para casa, o menino chorou:
- Vó, tenho um pressentimento que não vou mais ver a Maria. Ela foi para o mar.
- Não há o que fazer, filho! Com essa tempestade! É melhor a gente dormir. Vai ver que ela se escondeu nalguma cabana de pescador, né?
...
O relógio marcava sete horas. O sol voltou a brilhar. Brilhava ainda uma esperança no coraçãozinho do menino.
Foi para o mar.
Nada...
Nada...
Nada... 
Dois dias depois, o corpo de Maria foi localizado entre as pedras. 
O menino viu um sorriso no rosto dela e ficou aliviado.
- Vó, acho que ela encontrou seus entes queridos.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

"SUSPIROS DO GUAPÉ"


Por essa viela estreita
passam sonhos, passam medos,
passa o Mal e passa o Bem.
Tão depressa como a vida
indo embora todo dia,
vem Josés, vão-se as Cidas,
passam Anas e Marias,
velhos, moços, menininhos,
deixam suas marcas pelo chão.
Debaixo da ponte corre
um fio de água tão ralo
que as pessoas mal percebem
- são suspiros do Guapé -
Antes, formoso e potável,
viscoso e até navegável;
hoje, bem fragilizado,
um passeio em seu leito
mal me molha os meus pés.

- ano de 2.008 -